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OPINIÃO: Cansaço



Confesso que o mês de março parecia infindável. A sensação era de que terminaria o ano e março continuaria ali, intacto. Percebia-se, já nesse período inicial, um certo tom de fadiga no semblante das pessoas. Era questão recorrente nos mais diferentes espaços: que cansaço!

Participo, mensalmente, com um grupo de amigos(as), de conversas que ousamos chamar de "filosóficas". São encontros que, além de gastronômicos, visam refletir sobre temas que interferem em nosso modo de viver. E esse foi justamente o assunto da última reunião: a estafa. Dessa vez, nossa tarefa prévia era a de ler o livro "Sociedade do cansaço", do filósofo coreano Byung-Chul Han, da Universidade de Berlim, na Alemanha. Posso dizer que o bate-papo "ferveu" ao ponderar sobre a mudança de paradigma do século XXI, na qual, ao contrário de uma sociedade anteriormente disciplinar, vivemos um excesso de positividade. Esse autor considera que, atualmente, somos o resultado de uma vida posta para trabalhar, da superprodução, do superdesempenho, da supercomunicação. Salienta que estamos na era da depressão, do transtorno do déficit de atenção com síndrome de hiperatividade, do transtorno de personalidade limítrofe ou da Síndrome de Burnout (síndrome do esgotamento profissional).

Nos sentimos tristes ou felizes demais, capazes ou completamente incapazes. Extremos de sentimentos, permeados de cobranças, principalmente de nós mesmos. Somos, o tempo inteiro, bombardeados por mensagens, vídeos, anúncios, novos produtos fantásticos, onde tudo já foi inventado e, reivindicamos, diariamente, a necessidade de novas produções. Afinal, precisamos ser criativos, empreendedores e ousados, ou estaremos fora do mercado.

A pressão faz com que não desliguemos do trabalho, inclusive, ao chegar em casa. É o currículo lattes que chama para uma atualização urgente. A elaboração de um novo projeto. Aquele artigo que precisa ser publicado em uma revista fantástica. E o livro para lançar na próxima feira? Precisamos (?) estar conectados o tempo todo. E se algum(a) amigo(a) comenta que não usa o WhatsApp, olhamos para esse ser como se fosse um ET, pois recebemos, no mínimo, 10 mensagens por minuto. São correntes de orações, músicas, dicas de como bem viver, pregações otimistas, conselhos de como vencer os desafios cotidianos. Afinal, não podemos falhar.

A reunião nos fez voltar para casa provocados a pensar sobre os nossos dias, nos quais temos tantas cobranças para sermos felizes, em tempo integral. Queremos tudo ao mesmo tempo. Consumimos litros de café, chás, refrigerantes e, em alguns casos, medicamentos para manter em alerta e não perder um só minuto para vencer.

Vencer o quê? Vencer quem? Cuidado. O cansaço em excesso pode levar inclusive a ausência de forças para realizar o trabalho com a qualidade necessária. Não será o momento de pisar no freio para nossa saúde não dar sinais de que está esgotada dessa vida apressada?

Geralmente, o estresse melhora após algumas horas de repouso e lazer. Arrume as malas e faça uma viagem. Não pode? Então, organize o ambiente do seu quarto com uma cama cheirosa e repouse. Funciona! Não deixe seu cansaço virar exaustão.

Em tempo: agradeço aos amigos, dessa e de outras rodas que, além de "filosofar", liberam o meu sorriso e jogam para bem longe a canseira.

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